Flags Of Our Fathers (2006)
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Dir.: Clint Eastwood
Act.: Ryan Philippe; Adam Beach


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Clint Eastwood comprova-nos mais uma vez porque é considerado um dos melhores realizadores a trabalhar na actualidade. Com 75 anos de idade, seria de esperar um certo conformismo, quer nos temas, quer na forma de realizar, mas Flags Of Our Fathers prova-nos exactamente o contrário. Revela-nos um realizador com a sua plena capacidade criativa e na sua melhor forma. Depois de Mystic River e Million Dollar Baby, ambos reconhecidos pela crítica e pela Academia, que em dois anos consecutivos lhe concedeu um total de 13 nomeações e 6 Oscars, surge um retrato cru e frio de uma das batalhas mais decisivas da II Guerra Mundial.
Flags Of Our Fathers relata a história de uma simples fotografia e da forma como foi utilizada como instrumento de propaganda de guerra. Numa fase crucial da guerra, em que os cofres americanos se encontravam esgotados pelo esforço de guerra, uma foto do içar da bandeira na ilha de Iwo Jima tornou-se um símbolo de esperança e restaurou a confiança da população americana na vitória. Mas Flags Of Our Fathers não é um filme patriótico. Longe disso. O filme leva-nos aos bastidores e à encenação que se seguiu após a publicação dessa fotografia, desmascarando o seu aproveitamento e também dos homens que nela participaram. Com uma eficaz campanha de promoção e divulgação dos três “heróis” responsáveis pelo içar da bandeira, iniciou-se uma digressão pelos EUA que permitiu angariar os fundos necessários à conclusão da guerra. A forma como se consegue fabricar um mito e manipular as massas é particularmente interessante.

Mas Clint Eastwood não se limita a descrever apenas a orquestração da campanha, leva-nos a conhecer os homens e soldados por detrás dela. Com sucessivos flashbacks somos transportados no tempo para as areias escuras daquela praia onde morreram cerca de 21000 soldados japoneses e cerca de 7000 soldados americanos no espaço de dois meses. É aqui que o filme ganha o seu tom intimista e mais pessoal. Um a um podemos observar o quão traumática pode ser uma experiência de guerra e as marcas eternas que deixam num individuo. E cada um dos três soldados lida com a experiência de uma forma diferente. Rene encara o regresso a casa, a fama e a popularidade com bastante facilidade, tentando explorar as futuras possibilidades que se lhe poderão apresentar. “Doc” vive atormentado com a memória de todos os que viu partir. Como socorrista, assistiu à morte de todos os que em vão tentara ajudar. Mas Ira nunca se irá recompor. Uma parte de si ficou eternamente sepultada nas areias daquela praia misturada com o sangue de todos os que morreram. O álcool será a sua válvula de escape a uma vida que não escolheu.

O melhor: A reconstituição da batalha inicial, a fotografia crua e monocromática e a interpretação de Adam Beach.
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O pior: A estrutura narrativa nem sempre se encontra bem delineada, especialmente no ínicio do filme, e os flashbacks temporais encontram-se por vezes desenquadrados da acção na actualidade.
